Em Campinas há uma praça que se chama Imprensa Fluminense; julgo, contudo, mais bonito e preciso o apelido Centro de Convivência. Nas primeiras horas da manhã de uma quarta-feira, lá convivem andorinhas e mendigos. Em um domingo ensolarado como este, ela é tomada por famílias e feirantes. E por mim; que eu não me esqueça de mim, embora não seja família, nem mendigo, nem feirante. Talvez andorinha.
Que beleza têm domingos ensolarados com gente na rua. Casais, crianças, cachorros, sorvete, saxofone, senhores e senhoras entretidos com as novidades de dêcenios passados. É quase impossível errar o quadro com essas tintas. Mas a que preço? Onde estão os tristes? Talvez em casa, temendo macular de azul as cores quentes da praça. Talvez imaginem que soaria alarme ao primeiro passo que arriscassem entre os demais, e em poucos minutos restaria esvaziado o centro e a convivência, reservados ao convívio dos tristes com suas misérias. Não sei. É daquelas verdades injustas o quão obscena é a tristeza sob o sol.
Reflito que, na perspectiva desta praça, os vivos são minoria. É o que acontece quando se vive demais. Já é extinta a maior parte de quem a frequentou; as primeiras crianças aqui trazidas pelos pais já adequadamente percorreram o trajeto inteiro da existência, até não haver mais trajeto algum. Para esta praça, não sou mais do que o breve descanso antes da saudade de mim; e a saudade, ela mesma, pouco dura antes que suceda silenciosa indiferença. Não concordo inteiramente com o niilismo das praças, mas juro que faz pensar.
E penso. Penso que serei família, serei casal, serei criança, serei triste. Com alguma sorte, serei senhor de idade. Talvez até andorinha eu seja. Se Campinas não for testemunha de minha alegria, há outras praças no mundo, e o mundo mesmo é também praça; que eu não espere domingos de sol para juntar-me à multidão. Há qualquer coisa neste jardim que me sugere o absurdo da vida. Fecho os olhos e peço por um pouco de beleza.
Um são bernardo caminha despreocupado pela praça; o peso do cão deixa incontestáveis marcas na grama. Desconfio que levará um tempo antes que a grama esqueça as pegadas desse são bernardo.
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