Aprendi a singela imagem do cão que guardava as estrelas, em livro de mesmo nome. O animal, ao encarar desejoso o astro inalcançável, ilustra a vontade do impossível; não a entendo, contudo, de forma triste. Representa bem a subestimada ideia de que, mesmo no fracasso, resta a beleza de um céu estrelado.
Penso nas estrelas que guardei e que aprendi a perder. A realidade nos dá descanso de alguns anos, depois de nascermos, antes de tombar sobre nós desavisada; até então, vivemos infância sem noite, e o sol está tão perto quanto o rosto de nossa mãe. Não tarda, e percebemos a verdade cansada de que não se consegue tudo o que se quer, e mesmo o que se consegue nos vem mutilado. Era mais quando o quisemos, é menos agora que o temos.
Crescemos e aprendemos. Pessoas são pessoas, e estrelas são estrelas. Elas, combustão inatingível de gases, queimando sozinhas até o derradeiro estouro; nós, reação de possibilidades, inalcançáveis uns aos outros, fazendo luz qualquer que nos distingua, até cessarmos, em inaudível suspiro. Em comum, apenas a indiferença de um mesmo céu.
Confesso, contra tudo o que a razão aconselha, que não desisti de guardá-las, ainda que, com frequência sempre maior, me descuide e as perca de vista. A vida dos adultos é coisa trabalhosa; se lhe permitimos que siga abandonada, logo embrutece, ganha vícios de objetividade. Busca apenas o que é útil, e utilidade é um perigo: se consumida sem ressalvas, torna iguais as vidas e as encurta. Guardo estrelas, e aconselho a todos que as guardem - não raro, quando diante de nós parecer haver nada, que não impossibilidade, encará-las será alento, e alento será tudo o que precisamos.
Haverá dias brutos, sei que haverá. Dias em que esquecerei de olhar o céu, em que a vida me pesará a ponto de eu ter por suficiente o chão, e sua utilidade de me impedir que caia. Nesse dia, renunciarei a qualquer coisa que não possa tocar, a qualquer desejo que não for realizável, e acharei por bem assim ficar. Se assim me vir, meu amigo, peço que não desista de mim. Coisa certa é que o céu não esquece de nós; me conte de seus sonhos e me lembre dos meus. Se, ainda assim, me mantiver duro e pragmático, tenha paciência e me faça mais um favor. Peço, por gentileza, que guarde uma estrela pra mim.
Crescemos e aprendemos. Pessoas são pessoas, e estrelas são estrelas. Elas, combustão inatingível de gases, queimando sozinhas até o derradeiro estouro; nós, reação de possibilidades, inalcançáveis uns aos outros, fazendo luz qualquer que nos distingua, até cessarmos, em inaudível suspiro. Em comum, apenas a indiferença de um mesmo céu.
Confesso, contra tudo o que a razão aconselha, que não desisti de guardá-las, ainda que, com frequência sempre maior, me descuide e as perca de vista. A vida dos adultos é coisa trabalhosa; se lhe permitimos que siga abandonada, logo embrutece, ganha vícios de objetividade. Busca apenas o que é útil, e utilidade é um perigo: se consumida sem ressalvas, torna iguais as vidas e as encurta. Guardo estrelas, e aconselho a todos que as guardem - não raro, quando diante de nós parecer haver nada, que não impossibilidade, encará-las será alento, e alento será tudo o que precisamos.
Haverá dias brutos, sei que haverá. Dias em que esquecerei de olhar o céu, em que a vida me pesará a ponto de eu ter por suficiente o chão, e sua utilidade de me impedir que caia. Nesse dia, renunciarei a qualquer coisa que não possa tocar, a qualquer desejo que não for realizável, e acharei por bem assim ficar. Se assim me vir, meu amigo, peço que não desista de mim. Coisa certa é que o céu não esquece de nós; me conte de seus sonhos e me lembre dos meus. Se, ainda assim, me mantiver duro e pragmático, tenha paciência e me faça mais um favor. Peço, por gentileza, que guarde uma estrela pra mim.